domingo, abril 12, 2009

Suspiro

A saudade deve morrer.

Aliás, temos todos enorme prazer em matá-la. Mas de que adianta, se ela ressuscita? Talvez demore mais de três dias, talvez não. O que importa é que ela sempre vai ressuscitar, até nunca mais morrer. Nesse sentido, a saudade é uma gata bizarra, que depois de morrer sete vezes, lateja vida.

Sau-da-de.

E então a saudade é o tempero do tempo. É inorgânica e, no entanto, dá gosto a vida. A saudade se seca, acumulada, no calor abafado da memória. Eu como a saudade e ela me dá sede: uma sede de lágrima. E, chorando, eu descubro que o ciclo da saudade, que vira água.

Mas saudade também pode me trazer uma alegria delicada. Fica assim, que saudade é sintoma de amor. Amor pelo que não está; embora possa estar sendo, em algum outro lugar. É lembrança sutil do que foi e expectativa do que é sem que se saiba claramente como esteja. É amiga do tempo e é amiga do espaço e é filha de gente.

A Saudade é lasca...
É apelo da eternidade, a saudade.


¹[Minha mãe disse: se a vida te der um limão, faça uma limonada. Eu fiz suspiro.]
²[Leandro, morrendo de saudade de você. Esse texto existe porque você está longe.]

quinta-feira, abril 09, 2009

Calçada minha

: vivo à beira

Sigo rente

De soslaio

Desde o início

No equilíbrio do pé

Trapezista

Brinco bamba

Pa ra le le pí pe do

É um ofício

 

: vivo à beira

Mas por dentro

Tem um fio

Bradado em mãos

Que é segredo

Um burburinho

De quem tende

Mas não chão

segunda-feira, abril 06, 2009

O sonho do andarilho

É noite
Há um canto
Canto, escuro

Preparo
Estendo
e deito

A sujeira é quem me asseia
O descaso é quem me assiste

A fome me delira,
se faz devaneio
E o sonho da rua,
se faz concreto